A ocupação do solo pelo homem, de forma similar ao que compreendemos atualmente como espaços urbanos, teve seu início há cerca de cinco mil anos. Com o surgimento dos primeiros assentamentos permanentes, o comércio, o estoque da produção agrícola e o poder se tornaram centralizados, e os habitantes desses aglomerados urbanos dedicaram-se a ocupações mais especializadas.
A revolução industrial intensificou o processo de crescimento das cidades. A necessidade de mão-de-obra nas indústrias levou à redução do número de habitantes do campo, promovendo, simultaneamente, a atração pela cidade e a evasão rural.
Este aumento de densidade populacional gerou áreas insalubres no tecido urbano compacto preexistente. Esta condição inicial do inchaço dos centros urbanos originou doenças e epidemias, gerando revolta da classe trabalhadora e das pessoas menos privilegiadas residentes nesses locais.
Contrapondo-se às condições precárias de saneamento, insolação e ventilação, situação comum das cidades durante a Revolução Industrial, o movimento moderno propôs grandes áreas livres a serem transformadas em espaços públicos, semelhantes a vastos jardins que seriam, supostamente, utilizados de forma intensa.
Este argumento foi utilizado para defender a necessidade de edifícios verticais como forma de incrementar a densidade em áreas urbanas ao mesmo tempo em que preservaria grandes áreas livres e públicas no nível térreo.
Porém, essa nova forma de olhar os espaços públicos e privados não considerava que a densidade não se resumiria ao seu aspecto meramente quantitativo, mas que a escala dos espaços livres, assim como a relação que esses espaços estabelecem com a forma edificada, teriam grande influência sobre a vitalidade urbana. Ao privilegiar a segregação dos usos dos espaços, o modelo de urbanismo moderno ignorava a indispensável interação entre eles. Desconsiderando os potenciais que a diversidade das metrópoles atuais propiciam, esse olhar pragmático, segundo as criticas dos urbanistas pós-modernos, levou à perda da vitalidade dos espaços mistos, propondo-os homogêneos e monótonos.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente, mais da metade da população mundial vivem em centros urbanos. No Brasil, segundo dados do Censo de 2010, organizado pelo IBGE, este número é ainda maior, abrangendo em torno de 85% da população brasileira.
Entretanto, o processo de verticalização também está associado, atualmente, à necessidade do mercado imobiliário em gerar excedentes econômicos, frente ao fato que a conformação do espaço urbano advém de um processo especulativo. A promoção de uma densificação urbana responsável exige uma série de contrapartidas, tanto da municipalidade quanto dos investidores privados. Visto que a disposição, dimensões, afastamentos e tipologias das edificações verticais influenciam na disponibilidade de recursos naturais do ambiente construído, tanto de espaços privados quanto de uso público. Deste modo, os investidores privados e gestores públicos devem oferecer e garantir a formação de espaços e redes de serviços, que aliados à distribuição racional dos edifícios sobre os terrenos demonstrem comprometimento com a ocupação urbana trazendo salubridade e qualidade de estar às edificações e aos espaços urbanos que as circundam.
A adoção de práticas que visam a redução do consumo de energia com o uso de recursos renováveis é uma alternativa para transformar as cidades atuais em sustentáveis e ambientalmente responsáveis.
Considerando os desafios desse cenário, o alcance da qualidade ambiental e redução de consumos encontrarão dificuldade no acesso aos recursos naturais renováveis? Nesse sentido, o que se deseja para o habitat humano do século XXI?
Nesta edição, o ENCAC/ELACAC além do movimento de compactação e verticalização das cidades, também discute a apropriação do clima no planejamento do ambiente construído, visando melhores condições de conforto ambiental, sustentabilidade e eficiência energética do ambiente construído. Fomentar a adoção de medidas sustentáveis que possam amenizar os impactos causados ao meio-ambiente, entre os quais a busca por conforto ambiental e a redução dos gastos energéticos são objetivos desta edição do evento.